1º de Maio – A Força do Trabalhador

1º de Maio – A Força do Trabalhador

O trabalho é fundamental para a existência humana. Dos atos mais simples às obras mais grandiosas, o trabalho sempre foi um dos elementos fundamentais do desenvolvimento social como um todo. O ser humano cria, mas o trabalho torna a criação uma (possibilidade de) realidade.

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Imagem 1 – O Mundo do Trabalho

Nem sempre o trabalho (e, em particular, o trabalhador) foi valorizado na História: vamos encontrar sociedades que os setores mais dedicados ao trabalho (servos, escravos etc.), além de explorados, eram socialmente inferiores – em muitos períodos históricos a visão do trabalho como elemento fundamental foi, culturalmente, negligenciado.

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Imagem 2 – Servos Trabalhando na Idade Média

Tal visão foi alterada a partir do século XVIII em diante, quando existiu a consolidação do Capitalismo como força econômica predominante e os trabalhadores (rurais e urbanos, os últimos ganhando consistência com o desenvolvimento da Revolução Industrial) como elementos vitais da estrutura social.

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Imagem 3 – Trabalhadores na Revolução Industrial

Até mesmo pensamentos divergentes valorizavam o trabalho: para o Liberalismo Econômico (que tem Adam Smith como principal representante), o trabalho era o fator de riqueza da sociedade; para o Marxismo (conjunto de ideias produzidas por Karl Marx), o trabalho também era a fonte da riqueza e, justamente, a sua exploração pelos donos dos meios de produção sobre os trabalhadores era visto como a razão das desigualdades sociais.

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Imagem 4 – Adam Smith e Karl Marx

No presente momento o trabalho não é apenas valorizado – é uma das razões sociais mais importantes do mundo moderno. Comemorar uma data sobre o trabalho, como 1º de Maio, tem todo o sentido possível.

 
Origens da Data

A data de primeiro de maio como o Dia do Trabalhador foi estabelecida pela Segunda Internacional Socialista, em 1889, num congresso que reuniu as principais lideranças socialistas do mundo na cidade de Paris.

A razão da data foi uma homenagem às manifestações dos trabalhadores norte-americanos, em particular os da cidade de Chicago, que, num sábado, primeiro de maio de 1886, realizaram grandes manifestações pelos seus direitos.

Milhares de trabalhadores de Chicago foram às ruas protestar contra as péssimas condições de trabalho e reivindicar a redução da carga horária de 13 horas para 8 horas. Um dos lemas dos trabalhadores foi “Eight-hour day with no cut in pay” (“Oito Horas diárias sem redução do pagamento”); outro lema foi “8 hours labour, 8 hours recreation, 8 hours rest” (8 horas de trabalho, 8 horas de recreação, 8 horas de descanso”).

Os lemas seriam gritados também em outras cidades (Nova Iorque, Detroit e Milwaukee). Foi o início de uma greve geral.

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Imagem 5 – Um dos lemas dos trabalhadores de Chicago

No dia 4 de maio, 2.500 manifestantes se reuniram em assembleia, na praça Haymarket, em Chicago. O evento, que começou às 8h30 da manhã e contou com a presença do prefeito da cidade, Carter Harrison Sr. (ele estava preocupado com eventuais atos de violência que poderiam ocorrer, acreditando que sua presença poderia evitá-los), que ouviu os discursos. Percebendo que a reunião estava acabando sem qualquer indício de violência, o prefeito foi embora quando o evento acabou, assim como a maioria do público presente.

Por volta das 10h30, 176 policiais cercaram os últimos 200 manifestantes, exigindo a retirada imediata. Seguiram-se tiros contra os manifestantes, sendo que uma bomba foi atirada na direção dos policiais. No confronto, morreram 4 trabalhadores, 7 policiais e 130 feridos.

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Imagem 6 – A Revolta de Haymarket

Nos dias seguintes, vários sindicatos do país foram ocupados por forças policiais, sem contar que a lei marcial foi decretada por todos os Estados Unidos. Em Chicago, mais de 100 sindicalistas foram presos acusados de provocar a violência contra policiais – 8 foram processados e 7 condenados à pena de morte (um deles morreu na cela, dois tiveram a pena convertida em prisão perpétua e o principal acusado de jogar a bomba no dia 4 de maio, Rudolph Schnaubelt, tinha fugido para a Europa antes de ser julgado).

Em 11 de novembro de 1887, 4 dos acusados (vestidos de túnicas e capuzes da cor branca) foram enforcados: August Spies, Adolph Fischer, Albert Parsons e George Engel.

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Imagem 7 – Os Condenados

Os sobreviventes seriam perdoados em 1893 pelo governador John Altgeld, com a alegação de que o julgamento foi malconduzido (opinião semelhante defendida pelos escritores Oscar Wilde e Bernard Shaw, críticos contundentes do julgamento e das sentenças impostas aos réus).

O impacto dos eventos de Chicago estimularia as manifestações trabalhistas pelo mundo e transformariam o dia Primeiro de Maio no Dia do Trabalhador, feriado em muitos países – mas não nos Estados Unidos, onde a data é comemorada em toda a primeira segunda-feira de setembro.


Primeiro de Maio no Brasil

A data foi oficializada no Brasil em 1924, pelo presidente Arthur Bernardes. Em muitos sentidos, foi a constatação do óbvio: a classe trabalhadora no Brasil era uma força política a ser considerada.

A industrialização do Brasil começou na segunda metade do século XIX, iniciando um processo de maior urbanização no país. A chegada do imigrante italiano (para trabalhar, inicialmente, nas lavouras do café no lugar da extinta mão-de-obra escrava, deslocando-se depois para as cidades com o crescimento da industrialização) trouxe novas ideias políticas, como o anarco-sindicalismo.

Em 1917 o país assistiria várias greves, colocando a classe trabalhadora no mapa político – principalmente na mira das elites, com grande preocupação, já que a Rússia, no mesmo ano, iria se transformar num país comunista.

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Imagem 8 - Greve Geral de 1917

Em 1922 as preocupações das elites aumentariam ainda mais: foi fundado o PCB (Partido Comunista do Brasil, nome na época).

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Imagem 9 – Fundação do PCB em 1922

A Revolução de 1930 não apenas tirou do poder a oligarquia dos grandes produtores de café - a chamada “Era Vargas”, de 1930 a 1945, apesar de todas as polêmicas (e autoritarismos inaceitáveis), colocou a indústria como fator primordial das políticas públicas no Brasil e o trabalhador como elemento político essencial.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi anunciada, pelo governo Vargas (na ditadura do Estado Novo), no dia Primeiro de Maio de 1943.

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Imagem 10– Assinatura da Consolidação das Leis do Trabalho

No decorrer dos anos, o anúncio do novo salário-mínimo era realizado nesta data, além de grandes manifestações dos trabalhadores.


Conclusões

Não podemos pensar na importância do trabalho apenas num único dia – o trabalho é diário e essencial para a nossa existência.

Temos de tomar cuidado com o uso político do trabalho – ultimamente temos grupos que usam uma espécie de “leitura” distorcida das relações trabalhistas, colocando o trabalho como uma espécie de “salvação” incondicional do ser humano, afirmando que a desigualdade estrutural do Brasil seria resolvida apenas com o trabalho – chamando de “vagabundo” qualquer pessoas que não tenha essa visão radical.

Caso tal lógica fosse realidade, os descendentes da escravidão seriam os membros das classes dominantes - seus ancestrais foram trazidos ao Brasil apenas para trabalhar. E a desigualdade estrutural não pode ser resolvida apenas pelo trabalho – ela é mais profunda em termos sociais e culturais, sendo que também atinge o trabalho.

O trabalho deve ser lido no seu contexto social e histórico – não como apenas “coisa de trouxa” ou “salvação absoluta”, para citarmos os exemplos extremos.

Trabalho é uma relação social que faz com que a capacidade humana de criação possa desenvolver-se. A luta é que essa relação encontre os caminhos mais justos para a distribuição de riquezas dentro da sociedade.

As culturas mudam, as sociedades mudam e as relações trabalhistas também. O lema de “A Luta Continua!” é sempre válido, embora, nas palavras do escritor contracultural Caio Fernando Abreu, possa ser complementado: “A Vida Grita. E a Luta Continua!”

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Imagem 11 – Caio Fernando Abreu

 

Colaboração:
Prof. Dr. Orivaldo Leme Biagi
Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas e Pós-Doutorado pela Universidade de São Paulo. Professor dos cursos de Graduação e Pós-graduação do Centro Universitário UNIFAAT.

 

 

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Referências das imagens:
Imagem 1: https://www.incqs.fiocruz.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1909:qual-e-a-sua-relacao-com-o-trabalho&catid=42&Itemid=132
Imagem 2: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=55736
Imagem 3: https://beduka.com/blog/materias/historia/primeira-revolucao-industrial/
Imagem 4: https://unahestudiantes.org/2018/03/14/liberalismo-marxismo-y-crisis-de-la-democracia-por-rossel-montes/
Imagem 5: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=370&evento=4
Imagem 6: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Haymarket
Imagem 7: https://i21.org.br/luta-dos-povos/os-martires-de-chicago-a-origem-e-o-significado-do-1o-de-maio/
Imagem 8: https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/greve-geral-de-1917/
Imagem 9: https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/a-funda%C3%A7%C3%A3o-do-partido-comunista-do-brasil-mar%C3%A7o-de-1922
Imagem 10: http://www.tancredoprofessor.com.br/conteudo/38/a-legislacao-trabalhista-de-vargas
Imagem 11: https://www.pensador.com/frase/ODU3NDQy/

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